domingo, 2 de maio de 2010

O BEM E O MAL
O mundo apresenta um aspecto multiforme, com a mescla do bem e do mal. Tragédia e comédia, desgraça e felicidade, guerra e paz, tudo é impulsionado pelo bem ou pelo mal. Há homens bons e homens maus. Precisamos, portanto, ser esclarecidos sobre a existência de uma causa básica, determinante desses dois elementos. No momento, parece-me indispensável
conhecê-la, e por isso desejo explicá-la.
Por uma inclinação normal, o homem odeia o mal e procura o bem. Com raras exceções, tanto os governos, como a sociedade ou a família, amam o bem, porque sabem que o mal não gera paz ou felicidade.
Há dois pontos a salientar na definição do bem e do mal. “Homem bom é aquele que crê no invisível; mau é o que não crê.” O primeiro crê em Deus: é espiritualista; o segundo, pelo fato de não O ver, não crê: é materialista.
A boa ação parte do amor, da compaixão ou da justiça social, isto é, do amor à humanidade. Há pessoas que praticam o bem por saberem que a boa ação produz bom fruto, e a má ação, mau fruto. Outras socorrem o próximo impelidas pela compaixão. Os quatro princípios do budismo – evitar o desperdício, ser moderado, fazer economia e tudo poupar – são práticas do bem. O desejo de ser simpático, gentil, fiel à profissão, almejar o benefício e a felicidade do próximo, render graças, manifestar gratidão e esforçar-se no sentido de agradar a Deus, também são práticas do bem. Ainda existem várias outras práticas, mas creio que essas sejam as mais comuns.
A má ação, produto do pensamento destrutivo fechado à existência Divina, justifica o delito, contanto que se consiga ludibriar os outros. Então, a fraude é praticada como ação perfeitamente normal; torturam-se inocentes, não importando se isso desgraça os homens e a sociedade, e chega-se até ao cúmulo da prática do homicídio.
A guerra é um homicídio coletivo. Desde a antigüidade, os ho¬mens considerados heróis provocaram guerras para conseguir poderes e satisfazer desatinadas ambições. Diz um provér¬bio: “O vitorioso domina o mundo, mas este o subjuga quando read¬quire seu equilíbrio.” A História nos mostra o fim, quase sem¬pre trágico, desses “heróis” que brilharam
apenas tempora¬riamente, como conseqüência natural do mal que cometeram.
Se fosse certo o conceito popular de que “não importa enganar, contanto que não se seja descoberto”, seria até mais vantajoso e inteligente praticar toda espécie de maldades e viver luxuosamente.
O mal surge, ainda, da crença de que, após a morte, o homem retorna ao Nada; é a negação da vida após a morte, isto é, da vida no Mundo Espiritual.
Embora a sorte o favoreça durante algum tempo, a realidade evidente é que o faltoso está fadado à ruína. Aquele que comete delitos vive inquieto e atormentado pelo receio de ser preso. Sob a tortura da sua consciência acusadora, é induzido ao arrependimento, sendo freqüente o caso de criminosos que se entregam ou se alegram em cumprir a pena, porque assim adquirem tranqüilidade. Isto significa que sua alma, através do elo espiritual, está sendo censurada por Deus, seu Criador. Portanto, ao praticar o mal, mesmo que consiga enganar os outros, a pessoa não pode enganar a si mesma e muito menos a Deus Onisciente,
ao qual todo homem está ligado por um elo espiritual. Por essa razão, jamais o crime compensa.
Existem pessoas que deixam de praticar ações condenáveis, entre outros motivos, por estes dois: por autodefesa, pois, apesar de pretenderem o mal, temem o descrédito da sociedade,
e por covardia, não obstante desejarem os seus proveitos. Por outro lado, muitos praticam o bem por conveniência, sabendo que as boas ações conquistam simpatia e são compensadoras; ou melhor, praticam o bem na esperança de retribuição. Isso não passa de uma transação, pois essas pessoas vendem favores para comprar gratidão. Tais ações não oprimem o próximo nem afetam a sociedade, sendo melhores que as más, porém, não são verdadeiramente benéficas. Portanto, perante Deus, cujo olhar penetra no íntimo do homem, nelas não há honestidade. A dúvida quanto a isso é decorrente da superficialidade do ponto de vista humano. Essas atitudes são perigosas, próprias dos que não crêem no Ser Invisível; os que as praticam são levados, no momento oportuno, a cometer algum mal que possa passar desapercebido na sociedade.
Ao contrário, quem realmente crê em Deus, não se deixa lu¬di¬briar por “brilhantes perspectivas”. Ainda que seja considerado um homem de bem, do ponto de vista terreno e objetivo, se o indivíduo não crê em Deus, situa-se na esfera do mal, visto estar propenso a transformar-se num mau elemento a qualquer instante. Por isso eu insisto: ter fé, crer naquele Ser Invisível, é o atributo essencial do autêntico homem de bem. Estou convencido
de que nada, além da Fé, nos poderá salvar dos conceitos excessivamente desmoralizadores
que caracterizam a época atual.
Embora o homem continue criando leis, polícia, tribunais e prisões para impedir a ocorrência
de crimes, tudo isso é como ele construir jaulas de ferro para animais ferozes, a fim de proteger-se do perigo. Dessa forma, os criminosos não estão recebendo tratamento apropriado a seres humanos. E haverá maior infelicidade para alguém do que terminar a vida descendo às condições de animal, quando foi criado como um ser superior a todos os demais?
“O homem se tranforma em animal quando se corrompe, e em ser Divino, quando se eleva.”
Esta é uma verdade secular. O homem é realmente um ser intermediário entre Deus e a besta. De acordo com esta verdade, o verdadeiro civilizado é aquele que se libertou do instinto
animal. Creio que se pode conceituar o progresso da civilização como a evolução do homem animal para o homem Divino. E o lugar onde se reúnem homens Divinos poderá ser outro que não o PARAÍSO TERRESTRE?


* ENSINAMENTO EXTRAÍDO DA COLETÂNEA ALICERCE DO PARAÍSO
25 de janeiro de 1949